Uma menina feia e boazinha, de coração bom, de alegria simples. Um rosto redondo, uns traços orientais. Abraçados. Nos encostávamos, tomando-a, ora pelas costas, encoxando, ora pelo lado, nos apoiando. Evitava qualquer desejo. Era o toque sensual sem sensualidade. Do gosto do corpo amigo, sem malícia. Amigos, bons amigos. Viajávamos num ônibus para algum lugar ao norte de São Paulo. Goiás, talvez. Nos conhecemos naquela parada.
Entramos num estabelecimento. Em perfeita harmonia, escolhemos algumas guloseimas. Não me lembro bem, mas pagamos, ou paguei em perfeito acordo de notas e moedas. Compramos também algumas lâmpadas: podia faltar luz, não é?
Sentamos juntos, no meio do ônibus. Depois da partida, ela começou a transbordar sexo. Levantou a saia curta. As coxas clarinhas, a púbis delicada. Meteu a mão, mexia, tocava. Era público. Decidi arranjar o banheiro do ônibus. Concordou transdoidepassivamente. Arranjei briga com o povo do fundão: Um cara tomara a minha vez na merda. Ralhei com outro. Você é folgado, hein cara? Não! Você é que é folgado, meu! Você se acha, hein cara? Não me achava: tinha certeza. E enfiei esta: todos têm direito de ser filho da puta. Sou filho da puta, e daí? Você por acaso não é? Sou mesmo. Disse mesmo. E tá: o bolo-fofo calou a boca. De volta ao meio do veículo, mal conseguindo, encontrei o lugar vazio. Fui até a frente. O motorista lambia seus seios gelatinosos e dirigia.
Saturna e furiosamente arranquei-a, sentei-a. Você gosta mais de mim do que eu mesma. Puxei o saco das comidas. Peguei uma lâmpada. Primeiro, quebrava a abóboda com os dentes. Saía o argônio rarefeito e entrava o oxigênio maléfico. Evitando o filamento, ia quebrando os pedaços de vidro finíssimo e frio, um sorvete de rara espécie, para não cortar a boca. Sem erro no procedimento, utilizava as partes duras da boca contra as pontas, e as curvas contra os arcos dos pedaços. Mastigava bem. Cuidava pra não machucar o céu, e descuidava pra que machucasse a língua. Suavemente engolia e ruidosamente me entretinha, provando a bile entre uma lâmpada e outra que o gosto do vidro provocava na faringe, totalmente moído. Como restos das guloseimas, sobravam as bases metálicas e os filamentos.
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